5 Mitos sobre o luto
“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
Fernando Pessoa
O que é o luto ?
O luto é uma reação normal face à perda de alguém ou algo que se considera valioso e que precisa de ser vivido para que a sua vida prossiga. Apesar de se associar o luto facilmente à morte de alguém querido, este “viver”, que sucede ao desaparecimento de algo significativo, abrange várias áreas da vida: prejuízo ou alteração financeira ou de estatuto, doença, reforma, desaparecimento de um animal de estimação, perda de um sonho, ou projeto de vida que nunca se concretizou, ou um amor que nunca se viveu, por exemplo na relação com os pais, numa amizade, uma relação romântica, num casamento, num divórcio.
Como se manifesta esta reação à perda?
As reações a estas perdas podem ser tão variadas na sua manifestação – choque, raiva, negação, culpa, tristeza, vazio – como na intensidade, quase como um terramoto, mas com diversas intensidades que vão desde a incapacidade de sentir um conjunto de emoções sentidas como verdadeiramente avassaladoras e que não são sempre características de infelicidade e angústia, espelhando por vezes emoções e humor positivo.
O sofrimento associado a esta perda pode incluir também manifestações físicas acompanhadas por dificuldades em dormir, comer, ou outras de natureza mais intelectual como dificuldade em raciocinar, perda de memória, entre outros.
As reações são muito diferentes consoante as pessoas, mas quanto maior a perda mais intensas são as manifestações. Para se poder seguir em frente, para que se possa aprender a viver com a realidade que já não se tem é preciso aprender a fazer o luto.
5 Mitos associados ao luto:
1. O sofrimento desaparece mais depressa se não se der importância.
O facto de não se pensar não quer dizer que o sofrimento desapareça. Para que haja alívio real é importante reconhecer e aprender a lidar com o mesmo. Sentir tristeza, desamparo, medo, solidão são reações normais a uma perda. O que aproxima verdadeiramente as pessoas é a autenticidade das suas vulnerabilidades, não o fingir que nada acontece apesar de, muitas vezes, o fazer com receio de não conseguir lidar com as ondas de sentimentos ou mistura de emoções que possa vir a sentir.
2. O luto faz-se no máximo num ano.
Algumas pessoas restabelecem-se em semanas ou meses, outras precisam de anos. E por vezes pode ser benéfico pedir ajuda para se aprender a lidar com a nova realidade, ou apenas para expressar os sentimentos.
3. Se não chorar ou se entristecer significa que não se importa.
Chorar ou sentir tristeza são reações normais relativamente à perda, mas não são as únicas manifestações de sofrimento. Cada pessoa expressa a sua dor de forma diferente.
4. Fazer uma vida normal ou seguir em frente significa esquecer o que ou quem se perdeu.
Seguir em frente implica retomar a vida que se tinha ou reconstruir a mesma face à nova realidade. É uma forma de sobreviver e não significa que se tenha esquecido ou desvalorizado o que aconteceu. Quando se trata da perda de alguém, o seguir em frente muitas vezes significa encontrar uma forma de a pessoa que partiu se tornar numa parte fundamental da sua vida quer através da inspiração da sua memória, e da integração de todo o legado que a pessoa deixou, na forma como viveu, se relacionou consigo e o que lhe deixou de forma material ou intangível no seu coração e na sua mente.
5. O luto só se refere à perda de alguém querido.
Se a reação de luto sucede em várias áreas da sua vida, é sempre tempo de o fazer quando sentir que de alguma forma ficou preso num acontecimento, numa altura da sua vida, numa relação, num projeto que nunca concretizou, mas não conseguiu esquecer. E, preste atenção, pois enquanto não aprender a lidar com o que perdeu nunca conseguirá vencer o medo, o que lhe possibilitará, verdadeiramente, seguir em frente.
“Ninguém me disse que o sofrimento
se parecia tanto com o medo.”
C.S. Lewis